Maximino Giraud
Maximino Giraud nasceu em Corps, aos 26 de agosto de 1835. Sua mãe, Ana Maria Templier, é originária da região. Seu pai Germano Giraud é proveniente de uma região próxima. Maximino tinha dezessete meses quando sua mãe morreu, deixando também uma menina de oito anos, Angélica. Pouco depois o Sr. Giraud casa novamente. Maximino foi crescendo sem rumo. O pai, armador de carroças, vive na oficina ou no botequim. Sua esposa não tem atração nenhuma pelo garoto, vivo, descuidado, que não consegue ficar em casa, mas vive de cá para lá, nas ruas de Corps, atrás das diligências e carroças, ou andando pelas estradas com uma cabra e um cão. O garoto é facilmente arteiro, com um olhar vivo sob uma negra cabeleira desgrenhada, e uma língua solta... Durante a Aparição, enquanto a Bela Senhora se dirige a Melânia, faz girar o chapéu no alto do cajado, ou com outra ponta, brinca com as pedrinhas em torno dos pés da Bela Senhora. - "Nenhuma a tocou!", responderá ele, espontaneamente, a seus inquiridores. É cordial, desde que se sinta amado. Malicioso quando se quer implicar com ele. Sua adolescência foi difícil. Nos três anos seguintes à Aparição, perde seu meio-irmão João Francisco, a madrasta Maria Court, e seu pai o carpinteiro Geraud. É posto sob a tutela do irmão de sua mãe, o Tio Templier, homem rude e interesseiro. Na escola, sua evolução nos estudos é modesta.
A Irmã Santa Tecla que o acompanha de perto, chama-o de "o eterno movimento". Acrescentem-se a isso, as pressões exercidas pelos peregrinos e curiosos. Nessas circunstâncias, alguns iluminados legitimistas, partidários de um pretenso filho de Luís XVI, querem manipulá-lo para fins políticos. Maximino procura ludibriá-los. Contra os conselhos do Pároco de Corps e desrespeitando a interdição do Bispo de Grenoble, eles conduzem o adolescente a Ars. Maximino não gosta da companhia deles, mas aproveita a ocasião para conhecer este local. São recebidos pelo imprevisível Pe. Raimundo que, logo de início, trata o fato de La Salette como trapaça, e os videntes como mentirosos. Durante a manhã de 25 de setembro de 1850, o Cura d'Ars encontra-se por duas vezes com Maximino, uma na sacristia, e outra no confessionário, mas sem confissão. Que poderá ter-lhe contato esse adolescente exasperado? O resultado é que, durante anos, o santo Cura d'Ars duvidou e sofreu. Depois do mandamento de 1851 ele remeterá seus interlocutores ao julgamento emitido pelo Bispo responsável. Demorou alguns anos ele mesmo aceitar o fato e reencontrar a paz. Quanto a Maximino, mesmo afirmando que jamais se desmentiu, terá muitas dificuldades em justificar ser comportamento. Basta enumerar os locais por onde passou para se avaliar a que ponto o jovem Maximino viveu de cá para lá: do seminário menor de Grenoble (Le Rondeau) à Grance Chartreuse, do tratamento médico em Seyssin a Roma, de Dax a Aire-sur-Adour a Vésinet, depois do colégio de Tonnerre a Petit Jouy em Josas perto de Versailles e a Paris. Seminarista, empregado num asilo, estudante de medicina falhando ao bacharelado, trabalha numa farmácia, engaja-se como guarda-pontíficio, rescindindo o contrato após seis meses e voltando a Paris. O jornal "La Vie Parisiense" atacou La Salette e os dois videntes.
Maximino apresenta queixa e obteve uma retificação. Em 1866 publica um opúsculo: -"Minha profissão de fé a respeito da Aparição de Nossa Senhora de La Salette". Nesse período, o Sr. e a Sra. Jourdain, um casal devotado ao serviço de Maximino, assegura-lhe certa estabilidade e paga suas dívidas a ponto de se arruinar. Maximino aceita então associar-se a um comerciante de licores que faz uso de usa notoriedade para aumentar a venda de seus produtos. O imprevidente Maximino não encontra ali satisfação. Em 1870 foi mobilizado a servir no Forte Barrau, em Grenoble. Por fim, volta a Corps onde o casal Jourdain vem a seu encontro. Os três vivem pobremente, ajudados pelos padres do Santuário, com a aprovação do Bispado. Em novembro de 1874, Maximino sobe ao local de peregrinação de La Salette. Diante de um auditório particularmente atento e comovido, apresenta a narrativa da Aparição como o fizera desde o primeiro dia. Será a última vez. A 2 de fevereiro de 1875, vai igualmente pela última vez, à Igreja Paroquial. Na tarde de 1o. de março, Maximino se confessa, recebe a Eucaristia bebendo um pouco de água de La Salette para engolir a hóstia. Cinco minutos mais tarde entrega sua alma a Deus. Não completara quarenta anos ainda. Seus restos mortais repousam no cemitério de Corps, mas seu coração se encontra na Basílica de La Salette, perto do teclado do órgão. Era sua última vontade, para assim marcar seu apego à Aparição: - "Creio firmemente, mesmo a preço de meu sangue, na célebre aparição da Santíssima Virgem sobre a Montanha de La Salette, a 19 de setembro de 1846. Aparição que defendi por palavras, por escritos e por sofrimentos... Com este sentimento dou aqui meu coração a Nossa Senhora de La Salette".
A 19 de setembro de 1855, Dom Ginoulhiac, novo Bispo de Grenoble, assim resumia a situação:- "A missão dos pastores chegou ao fim, a da Igreja começa". Inúmeros são hoje os homens e mulheres de todas as raças e países, que encontraram na mensagem da Salette o caminho da conversão, o aprofundamento da própria fé, o dinamismo para a vida cotidiana, as razões do próprio engajamento com e no Cristo a serviço dos outros.
Melânia Calvat
Melânia nasceu em Corps, aos 7 de novembro de 1831, no seio de uma família numerosa. O pai, Pedro Calvat, conhecido como serrador, na verdade aceita qualquer tipo de trabalho. A mão, Julia Barnaud, lhe dará dez filhos. Melânia é a quarta. A família é tão pobre que às vezes, as crianças eram mandadas mendigar. Criança ainda, Melânia é "empregada" para tomar conta de vacas junto a camponeses da região. Desde a primavera de 1846 até o fim do outono, ei-la na casa de João Batista Pra, em Ablandins, um dos pequenos povoados da aldeia de La Salette. O vizinho de Pra se chama Pedro Selme. É ele que contratou por uma semana somente, o irrequieto Maximino para substituir um pastor adoentado. Diante desse extrovertido, Melânia, tímida e taciturna, se mantém reservada. No entanto, as duas crianças têm algo em comum..., sem assim se pode falar! Nascidas em Corps, onde residem as respectivas famílias, não se conhecem porem, dadas as prolongadas ausências da pastora. Ambos falam o dialeto local, e só conhecem algumas palavras do francês. Nem escola, nem catecismo. Não sabem ler nem escrever. O pai de Melânia vive à procura de serviço. A mãe anda sobrecarregada de trabalho por causa da família numerosa. Não há lugar para o afeto, e se há, é muito pouco. No dia da Aparição, o que caracteriza Melânia e Maximino é a pobreza: pobres de bens, pobres de saber, pobres de afeição. O fato é que são inteiramente dependentes. São como "cera virgem" que o evento marcará definitivamente com seus sinais, respeitando porém suas personalidades. Melânia, na verdade, é muito diferente de seu companheiro Maximino. Vive na casa de estranhos e só convive com a própria família durante os difíceis meses de inverno, quando a fome e o frio sobrevêm. Não é de estranhar pois que seja tímida e introvertida. - "Suas respostas eram simplesmente Sim ou Não", afirmava seu patrão, João Batista Pra. Depois do fato, ela responderá com clareza e simplicidade às perguntas relativas ao evento de La Salette. Permanece durante quatro anos junto às Irmãs da Providência. Tem pouca memória e ainda menos aptidões que Maximino, para os estudos.
A partir de novembro de 1847, sua diretora já temia que Melânia "não tirava proveito da posição que o evento lhe havia dado". Tornando-se postulante e, a seguir, noviça nessa mesma Congregação, objeto de atenção e condescendência da parte de numerosos visitantes, ela se abstêm às próprias opiniões. Por isso, o novo Bispo de Grenoble, reconhecendo, embora, sua piedade e devotamento, recusa-se a admiti-la aos votos "para formá-la... na prática da humildade e da simplicidade cristãs". Infelizmente, Melânia dá ouvidos a pessoas "inquietas e doentias", imbuídas de profecias populares, de teorias pseudo-apocalípticas e pseudo-místicas. Isso a marcará pelo resto da vida. Para dar crédito a tais afirmações, ele as relê à luz do segredo que recebeu da Bela Senhora. O mais simples exame do que afirma e escreve, mostra já as diferenças irredutíveis aos sinais e palavras de Maria em La Salette. Melânia, seus problemas e fantasias, tornaram-se o centro de seu discurso. Através de suas profecias, acerta as contas com aqueles que opõem alguma resistência a seus projetos. Assim manisfesta sua recusa à sociedade ou meio ambiente em que encontra problemas. Recria um passado imaginário onde são exorcizadas as frustrações de que foi vítima na infância. Já em 1854, Dom Ginoulhiac escrevia:- "As predições!atribuídas a Melânia... não têm fundamento, não têm importância em relação ao Fato de La Salette... são posteriores a esse mesmo Fato e nenhuma ligação têm com ele". E observa: - "Deixou-se a maior liberdade às duas crianças para se desmentirem, e elas não mudaram seu falar a respeito da verdade do fato de La Salette". Nessa ótica, Dom Ginoulhiac proclamará a 19 de setembro de 1855, sobre a Santa Montanha: "A missão dos pastores findou, e da Igreja começa".
Infelizmente, Melânia prosseguirá em suas divagações proféticas, orquestradas mais tarde pelo talento fulgurante de Leon Bloy ao criar uma corrente "melanista" que pretende se ligar a La Salette, mas que não tem outra base senão as incontroláveis afirmações de Melânia. Está muito longe dos fundamentos históricos da Aparição. Quanto ao conteúdo, apesar do verniz religioso, nada tem praticamente a ver com as verdades da fé da Igreja, relembradas por Maria em La Salette. deixa-se o campo da fé para ir-se ao campo instável, contestável e estéril das crendices. Esse tipo de literatura distancia da fá em vez de favorecê-la. Em 1854, um sacerdote inglês leva Melânia à Inglaterra. No ano seguinte, ela entre no Carmelo de Darlington, onde faz profissão temporária em 1856, deixando-o porém em 1860. Faz outra tentativa junto às Irmãs da Compaixão, de Marselha. Depois de uma estadia na casa delas em Cefalônia, na Grécia, e de uma passagem pelo Carmelo de Marselha, retorna às Irmãs da Compaixão por pouco tempos. Depois de alguns dias em Corps e em La Salette, estabelece-se na Itália, em Castellamare di Stabia, perto de Nápoles. Alik permanece durante dezessete anos, escrevendo seus "segredos" e a regra para uma eventual fundação. O Vaticano solicita ao Bispo da Diocese que a proíba de publicar este tipo de escritos, mas ela procura obstinadamente outros apoios e o imprimatur, até mesmo junto ao chefe do Sacro Palácio, Dom Lepidi. Isso não significa uma aprovação, nem mesmo velada.
Além disso, a autoridade a que Melânia se refere não é competente. Depois de uma estadia no sul, em Cannes, reencontramos Melânia em Chalon-sur-Saône onde, sempre em busca de uma fundação, sustentada pelo Cônego de Brandt d'Amiens, suscita uma querela com Dom Perraud, Bispo de Autum. A Santa Sé entra na questão e dá razão ao Bispo. Em 1892, retorna à Itália, perto de Lecce, depois em Messina, na Sicília, mediante convite do Cônego Anibal di Francia. Depois de alguns meses no Piemonte, estabelece-se na casa do Pe. Combe, Pároco de Diou, no Allier, um sacerdote apaixonado por profecias político-religiosos. Ali concluí uma autobiografia, no mínimo romanceada, onde reinventa para si mesma, uma infância extraordinária, mesclada de considerações pseudo-místicas, reflexo de suas próprias fantasias e das quimeras de seus correspondentes.
As mensagens que estão Melânia emite e que ligar a La Salette, nada em verdade, têm a ver com seu testemunho primitivo a respeito da Aparição. Aliás, quando se toca no fato de 19 de setembro de 1846, ela reencontra a simplicidade e a clareza de sua primeira narrativa, em plena concordância com a de Maximino. E isso, de maneira constante. Assim foi quando de sua passagem sobre a Santa Montanha, a 18 e 19 de setembro de 1902. Retorna ao sul da Itália, em Altamura, perto de Bari. Ali morre aos 14 de dezembro de 1904. Repousa sob uma lápide de mármore na qual um baixo relevo mostra a Virgem acolhendo a pastora de La Salette, no céu. Uma coisa é certa: ao final de todas as suas andanças, há um ponto sobre o qual Melânia jamais mudou: o testemunho que, com Maximino, ela deu na tarde de 19 de setembro de 1846, na cozinha de João Batista Pra, em Ablandins, e durante toda a investigação conduzida por Dom Felisberto de Brillard, retomada e confirmada pela de Dom Ginoulhiac. Numa vida difícil, Melânia permaneceu pobre e piedosa, fiel sempre a seu primeiro testemunho.