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20.12.08

Nossa Senhora detém o sol para derrotar os mouros


Ao iniciar a campanha de Sevilha, em 1247, o Rei S. Fernando III enviou mensagem ao Grão-mestre da Ordem de Santiago, D. Pelayo Correa, para que acertasse alguns assuntos próximo a Badajoz, e depois fosse a Sevilha. Assim ele o fez, conquistando com seus monges-cavaleiros várias cidades pelo caminho.Ao passar por Figueira da Serra, foi atacado por uma numerosa hoste de muçulmanos, muito superior à que tinha consigo.Vendo que a batalha se prolongava, e que começava a anoitecer, D. Pelayo rezou à Virgem, suplicando-lhe que mantivesse a luz do dia: "Señora, ten tu día".O sol parou no céu durante o tempo suficiente para que os cavaleiros de Santiago pudessem vencer a batalha.Desde então a serra se chamou Serra de Tentudía. Como memória e agradecimento, o Grão-mestre estabeleceu ali um mosteiro-fortaleza, que ainda hoje existe, e em cuja capela, junto ao altar-mor, está sua sepultura.

Como os anjos compuseram o “Regina Coeli”


Era o ano 590, em Roma. Já devastada por um transbordamento do Tibre, que havia alagado a cidade reduzindo-a à fome, irrompeu uma terrível peste.Para aplacar a cólera divina, o Papa S. Gregório Magno ordenou uma litania septiforme.Isto é, uma procissão geral do clero e da população romana, formada por sete cortejos que confluíram para a Basílica Vaticana.Enquanto a grande multidão caminhava pela cidade, a pestilência chegou a um tal furor, que no breve espaço de uma hora oitenta pessoas caíram mortas ao chão.Mas S. Gregório não cessou um instante de exortar o povo para que continuasse a rezar, e que diante do cortejo fosse levado o quadro da Virgem que chora, do Ara Coeli, pintado pelo evangelista S. Lucas.Fato maravilhoso: à medida que a imagem avançava, a área se tornava mais sã e limpa à sua passagem, e os miasmas da peste se dissolviam.Junto da ponte que une a cidade ao castelo, inesperadamente ouviu-se um coro que cantava, por cima da sagrada imagem: “Regina Coeli, laetare, Alleluia!”, ao qual S. Gregório respondeu: “Ora pro nobis Deum, Alleluia!”. Assim nasceu o Regina Coeli.Após o canto, os anjos se colocaram em círculo em torno do quadro. São Gregório Magno, erguendo os olhos, viu sobre o alto do castelo um anjo exterminador que, após enxugar a espada, da qual escorria sangue, colocou-a na bainha, como sinal do cessamento do castigo.Como recordação, o castelo ficou conhecido com o nome de Sant’Angelo. Em sua mais alta torre foi posta a célebre imagem de São Miguel, o anjo exterminador.

16.12.08

Maria é minha Mãe


Minha história de amor com Maria começou quando Deus, em seu imenso Amor, criou-me e colocou-me nos braços de Maria para que, como Mãe, cuidasse de mim. Ouso dizer que Maria decidiu-se por ser minha mãe e cuidar de mim. Demonstrou isso em vários fatos de minha vida.Logo que nasci mamãe consagrou-me a Nossa Senhora Aparecida. Fui batizada no dia da Imaculada Conceição (08/12).Passei um tempo numa igreja evangélica, mas lá não era o meu lugar. Voltei ao seio da verdadeira Igreja, onde fiz a Primeira Comunhão e recebi o Crisma. Costumava ir à missa todos os domingos, mas não dava o verdadeiro valor. Hoje, percebo que era indiferente a Deus; infelizmente, como muitos, era católica apenas pelo nome. Participei de vários encontros de jovens, mas não mudava muita coisa, continuava na indiferença. Até que Deus decidiu dar um basta nessa situação.No dia 29 de novembro de 1992, minha vida mudou radicalmente. Participei do primeiro encontro de jovens da RCC na minha paróquia, cuja padroeira é Nossa Senhora da Paz, e nesse dia houve a Efusão do Espírito Santo. Lembro que já na fila para receber a oração meu coração estava disparado. Rezaram por mim, foi muito simples, não aconteceu nada de extraordinário. Voltei ao meu lugar e, com o coração ainda disparado, fiquei rezando. Terminada a oração fomos para o intervalo do lanche.Enquanto saía, passando em frente ao sacrário, senti uma moleza e caí. Pensei que fosse o que eles haviam explicado como repouso no Espírito Santo, pois me sentia em paz; mal sabia que naquele momento Deus fazia uma grande cura em meu coração. Meu físico não resistiu, minha pressão subiu demais e tive de ir para o hospital.No carro, com meus pais, enquanto passávamos pela Igreja Matriz, vi uma Senhora muito bela ao meu lado, usando uma túnica cor de rosa, que me olhava com muito amor. Na hora, disse à minha mãe que tinha visto Maria e pedi que rezasse uma Ave-Maria comigo. Mesmo achando que eu estava ficando “louca”, mamãe rezou comigo e uma grande paz invadiu meu coração.Sentia necessidade de estar perto de Deus ou de coisas que me lembrassem dele. No corredor do hospital, mesmo debilitada, precisei dizer a um acidentado que ele era amado por Jesus. E que grande alegria poder dizer algo que eu havia experimentado! Aos poucos, minha pressão foi melhorando e voltei a tempo de coroar aquilo tudo com a Santa Missa. Até hoje não entendo direito o que aconteceu, mas sei que não preciso compreender o que Deus faz em minha vida, apenas colher os frutos, que são muitos. Fui envolvida por uma grande alegria, um profundo desejo de anunciar a todos o amor de Jesus. Engajei-me no grupo de jovens da paróquia, disposta a trabalhar para Deus.Depois disso, minha vida não foi mais a mesma. Já não era indiferente a Deus e às suas “coisas”. Pelas mãos de Maria, houve uma grande cura em meu coração.Após um certo tempo, ao preparar-me para pregar sobre o “Silêncio de Maria” em um encontro de jovens, relembrava essa experiência para testemunhá-la; questionei-me sobre qual Nossa Senhora seria aquela, estranhando o fato dela não estar com seu manto, como se vê nas imagens. Então, tive o entendimento de que estava sem o manto porque ele estava sobre mim. Eu estava, e continuo, sob os cuidados de Maria, sob seu manto.Como Mãe, sua presença foi sempre constante. Recebi de suas mãos muitas graças, dentre elas a Vocação Shalom.Outro momento muito importante foi minha consagração como fiel escrava de Maria (cf. S. Luís Maria Montfort) em 1999. Em uma formação pessoal, depois de uma experiência de oração com Maria, foi sugerido que eu me consagrasse a ela. Então, junto com alguns irmãos, em Salvador-BA, pelas mãos do Pe. Bruno, membro da Congregação Irmãos de São João, fui consagrada à Virgem Maria e ungida com o óleo da Porta do Céu. Foi um momento simples e único em minha vida. Formalizei algo que já era real em minha vida: a consagração a Maria.Hoje, no segundo ano do noviciado na Comunidade de Vida Shalom em Fortaleza, posso dizer que teria muito a testemunhar, pois foram muitos os presentes, graças, curas e até milagres recebidos por Maria. Muitas vezes na minha fraqueza, nas minhas dores corri para o seu colo de Mãe, meu lugar. Diante de tudo vivenciado com Maria, faço um questionamento: Quem é Maria para você? A minha resposta é: minha Mãe! Qual é a sua? Que você possa dizer comigo: Maria é, antes de tudo, minha Mãe!
Luciana Mariano da Silva

9.12.08

Como é que se deu a aparição de La Salette?

Na manhã do 19 de setembro de 1846 Maximin voltou a acompanhar Mélanie. Era um dia bonito, o céu estava sem nuvens e o sol brilhava intensamente. Subiram o morro de La Salette até uma altura de 1.800 metros, sem poderem imaginar o evento sobrenatural que haveriam de testemunhar.
Maximin queria brincar. Ela lhe propôs seu entretenimento preferido: fazer o que ela chamava de paraíso, isto é, uma casinha de pedras toda recoberta de ramalhetes feitos com flores silvestres, que desabrocham naturalmente nas alturas.
Chegando a uma curva do terreno protegida dos ventos, começaram a levantar o paraíso. No local há muita ardósia, pedra que forma placas e se prestava para o brinquedo.
Ali corre um regato chamado Sézia, formado pelo degelo das neves, e que empresta seu nome ao local da aparição. Também surgia uma fonte de água de vez em quando. Os pastores costumavam levar o gado para beber água dessa fonte, mas desde a aparição, ela vem jorrando sem interrupção. Pode-se beber dela e, por causa disso, muita gente tem recebido graças. Até mesmo milagres têm acontecido.
O paraíso tinha um térreo, que seria a habitação, e um sobrado fechado por uma pedra mais larga. Eles colheram maços de flores, fizeram coroas floridas e as distribuíram sobre o paraíso. Após muito trabalho nessa construção, o paraíso ficou pronto e todo florido.
Os dois admiraram a obra, mas sentiram sono. Afastaram-se um pouco, deitaram na relva e dormiram.
Uma luz mais brilhante que o sol
Maximin contou o que em seguida aconteceu:
“Nossas vacas beberam e se dispersaram. Fatigado, me deitei sobre a grama e dormi. Alguns instantes depois ouvi a voz de Mélanie que me chamava:
– Mémin [era um diminutivo de Maximin], Mémin vem logo, vamos ver onde estão as vacas.
“Eu me levantei num pulo, peguei meu bordão e fui atrás de Mélanie, que era minha guia. Atravessamos o Sézia e subimos rapidamente a encosta de um montículo. Do outro lado percebemos que nossos animais repousavam tranqüilamente.
Voltamos para o banco de pedra, onde tínhamos deixado nossas merendeiras, quando de repente Mélanie parou O bastão caiu de suas mãos, e espantada, ela voltou-se para mim, dizendo:
– Está vendo lá em baixo essa grande luz?
– Sim, estou vendo. Mas vai, pega o teu bordão.
“Então, brandindo o meu cajado de modo ameaçador, eu disse:
– Se ela nos tocar, eu lhe darei um bom golpe!
“Essa luz, diante da qual a do sol parece pálida, parecia se entreabrir, e percebíamos no seu interior a forma de uma Dama ainda mais brilhante. Ela tinha a atitude de uma pessoa profundamente aflita. Estava sentada sobre uma das pedras do banquinho [N.R.: refere-se ao paraíso], com os cotovelos apoiados nos joelhos e o rosto coberto com as mãos”.
Era o dia 19 de setembro de 1846. As crianças não faziam bem idéia da magnitude do que estava ocorrendo.
Maximino e Mélanie eram irmãos? Primos? Como se conheceram?

La Salette-Fallavaux é uma pequena aldeia (foto) nos contrafortes dos Alpes, na diocese de Grenoble (França). Sua pacata igreja, rodeada por um certo número de casas, lembra o fato de Nosso Senhor ter chamado a atenção para a galinha que protege os pintainhos sob suas asas.
Um pouco acima na montanha há outra aldeia, menor que a anterior. Seu nome é Les Ablandens e depende de La Salette.
Panorama austero e grandioso deslumbra pela beleza. Os Alpes rodeiam o vale. Suas partes mais altas cobrem-se de neve no inverno e brilham iluminadas pelo sol.
Na parte inferior das montanhas a neve se derrete na primavera, aparecendo novamente os prados naturais. Os habitantes de La Salette há muito tempo levam os seus rebanhos para ali pastar. E contratam servidores para vigiar o gado.
Foi esta a razão pela qual Mélanie Calvat, de 14 anos, e Maximin Giraud, de 11, subiram o morro de La Salette, conhecido como Sous-les-Baises, no dia 19 de setembro de 1846.
Os dois não eram de La Salette. Suas famílias moravam em Corps, pequena cidade localizada na parte mais quente e acessível do vale. Os lares de ambos eram pobres. A casinha de pedra onde nasceu e viveu Mélanie ainda está em pé e pode ser visitada. Sua pobreza é acentuada pelo fato de não ter sido restaurada. Um pouco melhor é a casa de pedra da família de Maximin, hoje transformada em loja.
Os dois jovens precisavam trabalhar para ajudar as famílias. Por isso puseram-se a serviço de dois proprietários de gado na condição de pastores. Mélanie cuidava do gado de Baptiste Pra, agricultor de Les Ablandens. E Maximin tocava as vacas de Pierre Selme, da mesma aldeia. O trabalho não era difícil e adequado à idade dos dois. Na época da aparição havia cerca de 40 pastores trabalhando em condições análogas nas montanhas vizinhas.
Primeiro encontro entre Mélanie e Maximin
Mélanie e Maximin não se conheciam. Ela ficava ocupada em afazeres domésticos ou em encargos que recebia da mãe. Maximin brincava com os meninos da mesma idade. Em 18 de setembro de 1846, véspera da aparição, repararam um no outro pela primeira vez. Estava nos planos divinos que os dois testemunhassem juntos a aparição de Nossa Senhora em La Salette e fossem instrumentos privilegiados da difusão da mensagem que Ela havia de revelar.
Quando Mélanie subia o morro, percebeu um menino que se aproximava dela. Era Maximin.
– “Menina, eu vou com você, também sou de Corps”.
Num primeiro momento, Mélanie não quis aceitar.
– “Não quero ninguém, quero ficar sozinha”, respondeu ela.
Mélanie gostava da solidão, do silêncio e da oração. E o menino a iria atrapalhar. Ela costumava ficar sozinha, falando para “as florzinhas do bom Deus”, que cobrem as encostas das montanhas no verão. Era sua forma preferida de rezar, que se prendia a fatos extraordinários acontecidos na sua primeira infância. Mas disto ninguém sabia.
Maximin era vivo e loquaz. Ficou insistindo. Mélanie se afastava dele fazendo sinais de que não o queria por perto.
Maximin a seguia de longe. Quando ela se punha a falar com “as florzinhas do bom Deus”, ele se aproximava para ouvir. E insistia:
– “Me leve com você. Serei bem comportado. Meu patrão me disse cuidar as vacas junto com as de você. Também sou de Corps”.
Quando acrescentou que iria ficar sozinho e se entediar muito, Mélanie teve pena.
Ela acabou arrancando de Maximin a promessa de guardar silêncio e não perturbá-la na sua contemplação. Maximin garantiu e não se afastou mais dela. Mas, como criança, logo esqueceu a promessa e se pôs a perguntar o que ela falava às flores. E pediu com insistência que Mélanie lhe ensinasse um jogo.
Por fim ouviram o sino da igrejinha de La Salette, que chamava a rezar o Angelus. Ela fez sinal a Maximin para tirar o chapéu e rezaram. Depois ofereceu um pão ao menino e inventou um jogo para ele. A jornada terminou calmamente.
Cumprem-se os sinais de advertência de Nossa Senhora

A violação do repouso dominical com atividades manuais e comerciais, o vício da maldição e da blasfêmia estavam profundamente arraigados na sociedade francesa. O relaxamento religioso tinha permitido essa decadência. Nada parecia conter esses maus costumes, e não eram os únicos.
Não estranha que se cumprissem as primeiras dolorosas advertências de Nossa Senhora.
As batatas e os vinhedos apodreceram, o trigo se desfazia atingido por estranha doença. A quebra das colheitas trouxe a fome.
“Dá pena ver os habitantes da região – escrevia a mulher do prefeito de Aspres-les-Corps – quase todos carecem de pão e batatas. Todos os dias eles percorrem os campos para colher cardos e outras ervas selvagens para fazer uma sopa, que na maior parte dos casos é comida sem manteiga, e no máximo com um pouco de leite. Nossas casas são rodeadas de gente que acha que deveríamos ter de tudo. E cada dia nos é necessário distribuir dinheiro, manteiga, pão e trufas a mais de 10, 15 e até 20 mendigos”.
A falta de alimentos açoitou toda a França.
Cumpriu-se também outra terrível advertência de Nossa Senhora: as crianças menores de 7 anos morriam em quantidade muito acima da média. Só em Corps faleceram 39 em 1847, quando o normal nos anos anteriores girava em torno de 4. Nos cantões vizinhos a mortalidade infantil quase duplicou.
O Pe. Pierre Melin, pároco de Corps, sempre cauto em seus juízos, observava:
“Dando um golpe de vista sobre a sociedade em nossos dias, não é necessário conceber um grande porvir, ou se colocar muito alto para ver que ela é bem ruim nos seus atos e bem doente nos seus princípios. Nossas cidades em geral oferecem espetáculos bem tristes à religião e a seus ministros. (…) O espírito de Deus retirou-se da sociedade. Ela tornou-se carnal, não procura mais do que pão e não acredita nem mesmo que é Deus quem o dá. Não será que o bom e misericordioso Deus a ameaça precisamente com a fome, para lhe desembaciar os olhos e fazê-la tomar consciência de seu erro?”
Abrir os olhos para a causa do mal, arrepender-se, reformar a vida no sentido oposto ao desses males, é a essência da penitência. E esta penitência é o que Nossa Senhora desejava, permitindo acontecer essas calamidades.
Os maus católicos sentem-se atingidos pela mensagem de La Salette

Rapidamente cresceu o interesse nacional pela aparição, sob o bafejo da graça. Mas tinha também explicações naturais.
A França estava dividida do ponto de vista religioso e político. Havia católicos que se diziam liberais ou sociais. Eram os precursores do movimento que hoje semeia a desordem na Igreja, conhecido também como progressismo. Estavam conluiados com os propagandistas do igualitarismo libertino, laicista e anticatólico da Revolução Francesa de 1789.
Eles exploravam e favoreciam atritos sociais e queriam subverter a Igreja por dentro. Tornavam relativa sua moral e insistiam nas questões sociais que eles distorciam bastante.
Neste ponto ecoavam os argumentos dos socialistas, comunistas ou marxistas, dizendo por vezes se opor a eles. E outras vezes nem isso. Em política faziam uma convergência com uma democracia revolucionária, laicista, igualitária, imoral e visceralmente anticristã. Era a democracia filha da Revolução Francesa.
São Pio X condenou depois os erros desses maus católicos na Encíclica Pascendi Dominici Gregis, e especialmente na Carta Apostólica Notre Charge Apostolique.
Tais católicos liberais sentiram-se apanhados e denunciados pela mensagem de La Salette, no que eles tinham de mais oculto e revolucionário.
De outro lado, havia os católicos piedosos e autênticos, defensores de todas as formas de legitimidade. Estes, ao saberem da mensagem de La Salette, tiveram uma confirmação de tudo o que a fé e a fidelidade à Igreja lhes inspirava.
Os governos da época – monarquia ilegítima de Luís Felipe, segunda e terceira repúblicas, bem como o império de Napoleão III – eram considerados com horror pelos melhores representantes do catolicismo francês. Tais governos não ocultaram seu ódio contra La Salette. Sobretudo Napoleão III, cujo jogo falso ficara desvendado na aparição.
Assim a mensagem de Nossa Senhora incidiu na carne viva dos problemas religiosos, políticos e ideológicos da França. Mutatis mutandi, esses problemas eram análogos aos do mundo católico ocidental daquela época.
Comoção no clero e no povo

Os dois videntes narraram o acontecido ao Pe. Jacques Perrin, pároco de La Salette. Este, ouvindo o relato, comoveu-se até o pranto. Ele batia no peito, exclamando: “Meus filhos, estamos perdidos, Deus vai nos punir. Ah, meu Deus, foi a Santa Virgem que apareceu para vocês”.
Nessa hora o sino tocou para o início da missa. Ele então fez um sermão que emocionou vivamente os paroquianos.
Depois os videntes foram para suas famílias. Mélanie não o fez imediatamente, ficando ainda na casa dos patrões, mas sim Maximin. Separaram-se e não voltaram a se ver durante três meses.
Foi providencial, pois não puderam conversar entre si. Desse modo, familiares e conhecidos puderam comparar o que os dois diziam, independente um do outro, e comprovar que tudo concordava na perfeição, sem possibilidade de uma montagem das crianças.
Os patrões dos videntes os interrogaram no dia seguinte ao da aparição e lavraram um relato. O mesmo fez com Maximin o prefeito de La Salette, Pierre Peytard, dois dias depois do acontecimento.
Estes inquéritos foram os primeiros de uma longa série, que os videntes atravessaram airosamente. Uma comissão da cidade fez mais uma apuração em regra. Cada um dos membros redigiu um relatório do que os videntes disseram individualmente.
Esses relatórios iriam ter um papel imenso na divulgação inicial do ocorrido em La Salette.
A notícia espalhou-se como rastilho de pólvora por grande parte do país. Em pouco tempo toda a França já conhecia o fato sobrenatural e tomava posição a seu respeito. As pessoas disputavam cópias manuscritas dos interrogatórios, especialmente dos relatórios.
Cinco meses depois apareceu em Paris o primeiro livro sobre a aparição, e uma das publicações chegou a atingir 300.000 exemplares.
A despedida. Fim da aparição

Após comunicar a parte pública e a parte secreta da mensagem, Nossa Senhora andou para frente, passou ao lado dos dois e subiu uma ondulação de terreno sem olhar para eles. Eles correram atrás.
Os pés de Nossa Senhora apenas tocavam a fímbria das ervas, sem as dobrar. Tendo atingido o topo, Ela se deteve olhando com terna bondade os videntes. E começou a se elevar insensivelmente até a altura de um metro. Ficou ali apenas um instante, suficiente para olhar o céu, a terra, à sua direita e à sua esquerda.
Depois voltou-se para as crianças, pousou nelas seus olhos “tão doces, tão amáveis e tão bons, que julguei que ela me atrairia até seu interior, e parecia que meu coração se abria ao d’Ela”, afirmou Mélanie.
E num derradeiro adeus, Nossa Senhora voltou a dizer-lhes:
– “Pois bem, meus filhos, vós o fareis passar a todo o meu povo”.
Assim que acabou de pronunciar estas palavras, a luz que a rodeava tornou-se mais intensa, e foi pouco a pouco envolvendo e ocultando seu corpo virginal. A luz formou uma espécie de globo, que diminuía à medida que subia. Ascendeu suavemente em direção à direita e desapareceu do horizonte visual das crianças amadas.
Os dois ficaram ainda olhando longamente para o céu. Quando caíram em si, voltaram-se um para o outro. Não conseguiam pronunciar uma só palavra. Ora olhavam para o céu, ora para o chão ou em torno de si, para ver se ainda discerniam a bela dama. Nossa Senhora tinha partido.
Mélanie rompeu o silêncio:
– Deve ter sido, Mémin, o bom Deus ou a Santa Virgem de meu pai, ou talvez alguma grande santa.
– Ah, respondeu Maximin, se eu tivesse sabido, eu lhe teria pedido para me levar com Ela para o Céu.
Foi a única aparição de La Salette, e nela está tudo contido.
O sol começou a descer. As vacas pastavam tranqüilas. Mélanie quebrou seu bordão em dois e fez uma cruz, que enfiou no exato lugar onde Nossa Senhora esteve.
Mélanie e Maximin voltaram primeiro às casas dos seus patrões. Ali contaram tudo, menos o segredo, é claro. Os piedosos patrões ficaram comovidos e levaram os dois para ver o pároco de La Salette. Na hora de falar com o sacerdote, Mélanie ficou surpresa, pois estava falando em francês, língua que antes da aparição ela não dominava.
A parte pública da mensagem

Maximin conta que Nossa Senhora continuou, dizendo:
– Se eles se converterem, as pedras dos rochedos transformar-se-ão em trigo e as batatas serão encontradas já plantadas na terra.
Depois Ela nos perguntou:
– Meus filhos, vocês fazem bem as orações?
Nós dois respondemos:
– Não, minha senhora, não muito.
– Ah, meus filhos, é preciso rezá-las direito no fim do dia e pela manhã. Quando não tiverem tempo, rezem só um Pai Nosso e uma Ave-Maria. Quando tiverem tempo, é preciso rezar mais ainda. Só vão algumas mulheres idosas à missa, as outras trabalham o verão todo e vão à missa no inverno, mas só para não levar a sério a Religião. Na Quaresma eles vão ao açougue como cães.
Depois indagou:
– Meus filhos, vocês não viram o trigo estragado?
Eu respondi:
– Não minha senhora, nunca vi.
Então a bela dama replicou:
– Mas tu, meu filho, deves ter visto que uma vez perto de Coin, junto com teu pai, o homem disse a teu pai: vem ver meu trigo como se estraga. Vós fostes, e teu pai pegou duas ou três espigas de trigo nas suas mãos, esfregou-as e elas caíram reduzidas a pó. Depois retornastes, e estavas a meia hora de Corps, quando teu pai te deu um pedaço de pão, dizendo: pega meu filho, come este ano, pois não sei quem terá para comer no ano próximo, se o trigo continuar se estragando deste jeito.
Eu respondi:
– É bem verdade, minha senhora, mas eu não me lembrava.
Ela terminou seu arrazoado em francês, com estas palavras:
– Pois bem, meus filhos, vós o fareis passar a todo o meu povo.
Como aconteceu a transmissão do segredo para cada um dos videntes

Os anúncios da perda das colheitas e as mortes das criancinhas cumpriram-se fielmente e serviram como prova da autenticidade da aparição de Nossa Senhora e do segredo que Ela comunicou na referida aparição.
Foi nesta visão, que foi só uma, que Nossa Senhora transmitiu a cada um dos pastores uma mensagem que só deveria ser revelada doze anos depois, em 1858.
Maximin explicou como a bela dama passou o segredo. Embora conservasse o mesmo tom de voz “quando falava a Mélanie, eu não ouvia nada. E quando Ela me confiava seu segredo, Mélanie ficava completamente surda”.
Cada um viu que Nossa Senhora movia os lábios falando ao outro, mas nada entendeu.
Após confiar um segredo a cada um, os dois voltaram a ouvir tudo.
Nossa Senhora mudou de idioma para ser melhor entendida pelos videntes

Quando Nossa Senhora indicou aos videntes que as colheitas se estragariam em sinal do cumprimento da profecia, incluindo as batatas, Mélanie não entendeu a palavra batatas, pois Nossa Senhora falava em francês.
As crianças não o entendiam bem, pois no dia-a-dia usavam o “patois” da região, um dialeto do francês misturado com muitos particularismos regionais.
Nossa Senhora percebeu a dificuldade e disse:
“Ah! vocês não entendem o francês, meus filhos. Vou vos falar de outro modo”.
E seguiu retomando em “patois” o que já tinha dito.
Então Maximin exclamou:
“Oh! não, minha senhora, isso não pode ser verdade!”.
“Sim, meu filho, você vai ver.”
E prosseguiu seu arrazoado:

“Que aquele que tem trigo não o semeie, senão os animais vão comê-lo. E se ainda brotarem alguns pés, na hora de batê-lo ele vai se desfazer em pó.
“Virá uma grande fome. Antes que venha, as criancinhas de menos de sete anos apresentarão um tremor e morrerão nos braços das pessoas que as cuidam. Os maiores farão penitência com a fome.
“As uvas se estragarão e as nozes se arruinarão”.
Enquanto fazia estes dolorosos anúncios, Nossa Senhora não cessava de derramar abundantes lágrimas.
Estes anúncios cumpriram-se fielmente na hora da colheita e serviram como prova da autenticidade da aparição e do segredo que Nossa Senhora comunicou naquela ocasião.
Sinal da veracidade da visão: as colheitas se estragarão
Nossa Senhora em La Salette deu uma prova para constatar a autenticidade da aparição e da seriedade de seus anúncios:
“Também os carreteiros – continuou Nossa Senhora – não sabem fazer outra coisa senão blasfemar envolvendo o nome do meu Filho. São duas coisas que tornam tão pesado o seu braço.
“Se a colheita se estragar, será por vossa causa. Eu vos fiz ver isso no ano passado com as batatas. Mas vós não tendes prestado atenção. Pelo contrário, quando as encontrais estragadas, jurais e blasfemais o nome de meu Filho. Elas vão continuar a se estragar, até que no Natal já não as haverá mais”.
Nestas palavras Nossa Senhora se referia a acontecimentos conhecidos pelas crianças.
De fato, na região e na França houvera uma quebra de safra, que até serviu de pretexto para motins populares.
Nossa Senhora esclarecia aos videntes que a verdadeira causa dessa desgraça eram dois pecados especiais.
Em primeiro lugar, a violação do mandamento que manda repousar e não trabalhar aos domingos.
Em segundo lugar, pelo vício generalizado da blasfêmia. E se os homens não cessassem essas ofensas, a situação continuaria piorando até o fim do ano.
Nossa Senhora tenta sustar o braço de Nosso Senhor
Os videntes desceram logo a pouca distância que os separava da Dama. Ao mesmo tempo Nossa Senhora se pôs em pé e deu alguns passos em direção às crianças. Ela pairava uns 10 centímetros acima da relva, e começou dizendo:
“Vinde meus filhos, não tenhais medo, estou aqui para vos anunciar uma grande notícia. Se meu povo não quiser se submeter, fico obrigada a deixar o braço de meu Filho golpear. Ele é tão pesado e tão grave, que não posso mais segurá-lo.
“Há muito que sofro por vossa causa. Se quero que meu Filho não vos abandone, estou obrigada a rezar a Ele sem cessar, por vossa causa. Mas vós não fazeis caso. Eu vos dei seis dias para trabalhar e reservei para mim o sétimo. Porém não o quereis consagrar-me. É isso que torna tão pesado o braço de meu Filho”.
NOSSA SENHORA, RAINHA DESTRONADA

Uma dama, ou uma bela dama. Assim ficou gravada nos meninos a imagem da Santíssima Virgem. Uma grande senhora. Mélanie prestou muita atenção nas roupas e símbolos que Ela usava.
Daí foi possível aos artistas elaborar as imagens de Nossa Senhora no local da aparição. Elas serviram de modelo para as outras em todo o mundo.
Era uma senhora coroada de flores, que Mélanie e Maximin encontraram sentada sobre o paraíso, chorando com o rosto nas mãos. Nossa Senhora, embora merecendo todos os tronos da Terra, parecia só ter encontrado aquele florido banquinho de pedra para se sentar.
Estava como uma rainha destronada, que percorre seu reino em prantos, à procura de quem queira lhe ser fiel.
Os pastorinhos se aproximaram com entusiasmo e candura. Não tinham idéia do que ouviriam. Muito do que Nossa Senhora tratou nem sequer tinha passado pela suas infantis inteligências até aquele momento.
Nossa Senhora desvenda um imenso cenário
As palavras de Nossa Senhora tinham um efeito saliente: produziam o que significavam. As crianças viam com os olhos o que elas queriam dizer. Como se o imponente anfiteatro do local celeste tivesse se desvanecido, e em seu lugar houvesse um imenso telão onde os pastores viam acontecer o que Nossa Senhora dizia.

Aí contemplavam desde as menores coisas até o próprio Deus.
Mélanie explicou: “A Santa Virgem pronunciava todas as palavras, seja dos segredos, seja das regras. Eu só teria podido adivinhar ou penetrar no resto do que Ela dizia com palavras, porque um grande véu tinha sido levantado.
“Os acontecimentos se desvendavam ante meus olhos e minha imaginação, è medida que Ela pronunciava cada palavra. E uma grande cena acontecia diante de mim. Eu via os acontecimentos, as mudanças de atitude na Terra, via Deus imutável na sua glória olhando para a Virgem, que se abaixava para falar a dois pastores. (…)
“Essas pessoas que dizem que a Santíssima Virgem não fala tanto, fariam bem em compreender – e teriam compreendido melhor do que ensinam os livros, se é que eles ensinam – que as palavras do Céu não são somente palavras.
“Quer dizer, a pessoa que as escuta não fica na letra, na palavra, mas cada palavra se desenvolve. E que a ação futura tem lugar no momento, (…) entra-se no espírito das cenas que são expostas. Se é um quadro triste, fica-se triste, se é alegre, sente-se alegria. Vêm-se os complôs que se fazem. Vêm-se os reis da Terra, cada um dos quais tem vários anjos da guarda. A gente os vê se agitar, fazer, desfazer.
“Vê-se a inveja de uns, a ambição de outros, etc., etc. E tudo isso numa só palavra que escapava dos lábios d’Aquela que faz tremer o inferno, a Virgem Maria”.
E ainda Mélanie: “Nossas redações, por assim dizer, exprimem muito e ao mesmo tempo muito pouco. É impossível dizer tudo. (…) Sou uma grande ignorante, mas se fosse uma letrada das mais sábias, não poderia escrever nada das coisas do alto, porque as expressões dos grandes sábios não chegam à sombra da verdade das expressões usadas lá em cima para se falar.
“A linguagem intuitiva e imediata de lá é um movimento de alma, anelos de alma, impulsos de alma, e os olhos vivos da alma se compreendem”.
E acrescentou: “Eu via o mundo inteiro, eu via o olho do Eterno. Era um quadro em ação. Eu via o sangue dos que eram mortos e o sangue dos mártires”.
A luz e a voz de Nossa Senhora

Nossa Senhora em La Salette apareceu envolta numa grande luz. Intensissima como a do astro solar, mas não queimava os olhos. Ela tinha graus, ou como que círculos concêntricos de intensidade. Essa luz envolveu os videntes.
“A Santa Virgem – explicou Mélanie – estava envolta em duas claridades.
“A primeira delas, mais próxima da Santíssima Virgem, chegava até nós.
“A segunda se estendia um pouco mais em volta da bela Dama, e nos encontrávamos nela.
“Esta luz era imóvel, não cintilava, porém bem mais brilhante que nosso pobre sol da Terra. Essas luzes não faziam mal aos olhos e em nada fatigavam a vista.
“Além de todas essas luzes, de todo esse esplendor, do corpo da Santa Virgem e de seus trajes saíam feixes de luz.
“A voz da bela Dama era suave. Encantava, fascinava, fazia bem ao coração. Saciava e aplainava todos os obstáculos. Parecia ter querido me alimentar de sua bela voz. Meu coração parecia dançar ou querer ir ao seu encontro para se derreter nela”.
Para Maximin o resplendor e a voz de Nossa Senhora era como “uma luz bem diferente de todas as outras. Ela ia diretamente ao meu coração, sem passar por meus ouvidos. Entretanto, com uma harmonia que os mais belos concertos não poderiam reproduzir. Digo com um sabor que os licores mais doces não conseguem ter”.
As lágrimas de Nossa Senhora em La Salette

Mélanie descreveu também o pranto de Nossa Senhora:
“A Santa Virgem chorava quase o tempo todo enquanto falava. Suas lágrimas corriam lentamente até os joelhos e desapareciam como faíscas de luz. Eram brilhantes e cheias de amor. Eu desejava consolá-la, para que não chorasse mais.
“Mas me parecia que tinha necessidade de mostrar suas lágrimas, para melhor evidenciar seu amor esquecido pelos homens. Eu quis me jogar nos seus braços e dizer-lhe: Minha mãe querida, não choreis! Quero vos amar por todos os homens da terra.
Mas parece que Ela dizia: Há tantos que não me conhecem.
“As lágrimas de nossa terna mãe, longe de diminuir seu ar de Majestade, Rainha e Senhora, pareciam embelezá-la, torná-la mais bela, mais poderosa, mais cheia de amor, mais maternal, mais encantadora. Eu talvez tivesse ingerido suas lágrimas, que faziam meu coração estremecer de compaixão e de amor.
“É compreensível que vendo chorar uma mãe, e uma tal mãe, se queira empregar todos os meios imagináveis para a consolar, para transformar suas dores em alegria”.
As correntes e o crucifixo no peito de Nossa Senhora

Em La Salette, Nossa Senhora apareceu usando uma Cruz e uma corrente todas especiais.
Mélanie, ela própria nos contou como eram:
“A Santa Virgem tinha uma belíssima cruz pendurada no pescoço. Essa cruz parecia ser dourada, mas digo dourada para não dizer que era folheada a ouro (…). Sobre esta cruz brilhantíssima havia um crucificado.
“Era Nosso Senhor com os braços estendidos sobre a cruz. Quase nas duas extremidades da cruz, de um lado havia um martelo e do outro uma torquês. A cor da pele do crucificado era natural, mas brilhava com grande fulgor. E a luz que emanava de todo seu corpo parecia dardos brilhantíssimos que perpassavam meu coração de desejo de me fundir n’Ele.
“Por vezes Cristo parecia morto. Ele tinha a cabeça inclinada e o corpo estava afastado, como a ponto de cair, se não fosse retido pelos pregos que o seguravam na cruz.
“Outras vezes Cristo parecia vivo. Tinha a cabeça erguida, os olhos abertos, e parecia estar na cruz por vontade própria. E em algumas ocasiões parecia falar”.
Geralmente interpreta-se o martelo como símbolo daqueles que pela sua má vida, pelo menosprezo da Lei divina e até pelo ódio, pregam ainda mais Nosso Senhor Jesus Cristo na cruz. Nesta concepção a torquês representa aqueles que, pelas suas boas ações, diminuem as dores de Nosso Senhor, e dentro de suas possibilidades tentam despregá-lo da cruz.
“A Santíssima Virgem – lembra ainda Mélanie – tinha duas correntes, uma um pouco mais larga que a outra. Da mais estreita estava pendurada a cruz à qual me referi. Essas correntes (é preciso dar-lhes o nome de correntes) eram raios de glória de grande brilho, que não é fixo mas faiscante”.
O indescritível olhar de Nossa Senhora

Mélanie descreveu assim o olhar de Nossa Senhora, como ela viu na aparição:
“Os olhos da Santíssima Virgem, nossa terna mãe, não podem ser descritos por língua humana. Seria preciso um serafim, seria preciso a linguagem do próprio Deus, desse Deus que criou a Virgem Imaculada, obra-prima de sua onipotência.
“Os olhos da augusta Maria pareciam mil vezes mais belos que os brilhantes, os diamantes, as pedras preciosas mais procuradas. Eles brilhavam como sóis. Eram doces, feitos da própria doçura, luminosos como um espelho. Em seus olhos via-se o Paraíso, eles atraíam a Ela.
“Ela parecia querer dar-se e atrair. Quanto mais eu a olhava, mais a queria ver. Quanto mais a via, mais a amava com todas minhas forças.
“Os olhos da bela Imaculada eram como a porta de Deus, de onde se via tudo que pode inebriar a alma. Quando meus olhos se encontravam com os da Mãe de Deus e minha, sentia dentro de mim uma feliz revolução de amor, uma promessa de amá-la e de me desfazer de amor.
“Quando nos olhávamos, nossos olhos conversavam à sua maneira. Eu a amava tanto, que teria querido osculá-la entre os olhos. Eles enterneciam minha alma e pareciam atraí-la e a fundir com a minha. Seus olhos inculcaram um suave tremor em todo o meu ser. Eu temia qualquer movimento que lhe pudesse ser desagradável, por menor que fosse.
“A simples visão dos olhos da mais pura das virgens teria bastado para tornar-se o céu de um bem-aventurado. Teria bastado para que uma alma se unisse plenamente com a vontade do Altíssimo, permanecendo assim em meio aos eventos da vida mortal. Teria bastado para que esta alma praticasse contínuos atos de louvor, de ação de graças, de reparação e de expiação.
“Esta simples visão concentra a alma em Deus e a torna como uma morta viva que olha todas as coisas da Terra, até as que lhe parecem mais sérias, como se fossem brinquedos de crianças. Ela não desejaria senão ouvir falar de Deus e do que toca na sua glória”.
O vestido de Nossa Senhora

Mélanie e Maximin se encontravam nesse momento num local mais alto, e foram descendo, de início intrigados e depois maravilhados. Maximin continua:
“Embora estivéssemos a uma distância de uns vinte metros, ouvimos uma voz doce, como se saísse de uma boca próxima de nossos ouvidos, que dizia:
– Avançai meus filhos, não tenhais medo. Estou aqui para vos anunciar uma grande notícia.
O temor respeitoso que nos tinha contido desvaneceu-se. Corremos até ela, como indo a uma boa e excelente mãe”.
O vestido de Nossa Senhora
Mélanie sempre foi mais meticulosa nas suas descrições. Deixou registrado com mais pormenores o que viu e ouviu. Ela conta:
“O vestido da Santíssima Virgem era branco prateado e todo brilhante. Não tinha nada de material, estava composto de luz e de glória variante e cintilante. Na terra não há expressões nem comparação para usar. (…)
“A Santíssima Virgem tinha um avental amarelo. Por que digo amarelo? Ela tinha um avental mais brilhante que muitos sóis juntos. Não era de um pano material, estava composto de glória, e esta glória era cintilante e de uma beleza encantadora. Tudo na Santa Virgem me atraía poderosamente e me inclinava a adorar e a amar meu Jesus em todos os estados de sua vida mortal.
“A coroa de rosas que ela tinha sobre a cabeça era tão bela, tão brilhante, que não dá para se fazer uma idéia. As rosas de diversas cores não eram da terra. Era uma reunião de flores que rodeava a cabeça da Santíssima Virgem com forma de coroa. Mas as rosas mudavam e se substituíam, porque do centro de cada rosa saía uma luz tão bela, que fascinava e tornava as rosas de uma beleza esplendorosa.
“Da coroa de rosas subiam raios de ouro e uma grande quantidade de outras florinhas misturadas com brilhantes. O todo formava um belíssimo diadema, que brilhava sozinho mais do que nosso sol na Terra.
“Os sapatos (pois é preciso dizer sapatos) eram brancos, mas de um branco prateado, brilhante. Havia rosas em torno deles. Essas rosas eram de uma beleza fulgurante. E do centro de cada rosa saía uma chama de luz muito bonita e muito agradável de se ver. Sobre os sapatos havia uma fivela de ouro, não do ouro da Terra, mas de ouro do paraíso”.
Mélanie contou que Maximin tentou pegar uma destas rosas que estavam sob Nossa Senhora, mas nada conseguiu.

BIOGRAFIA DOS CONFIDENTES DE LA SALETTE



Maximino Giraud
Maximino Giraud nasceu em Corps, aos 26 de agosto de 1835. Sua mãe, Ana Maria Templier, é originária da região. Seu pai Germano Giraud é proveniente de uma região próxima. Maximino tinha dezessete meses quando sua mãe morreu, deixando também uma menina de oito anos, Angélica. Pouco depois o Sr. Giraud casa novamente. Maximino foi crescendo sem rumo. O pai, armador de carroças, vive na oficina ou no botequim. Sua esposa não tem atração nenhuma pelo garoto, vivo, descuidado, que não consegue ficar em casa, mas vive de cá para lá, nas ruas de Corps, atrás das diligências e carroças, ou andando pelas estradas com uma cabra e um cão. O garoto é facilmente arteiro, com um olhar vivo sob uma negra cabeleira desgrenhada, e uma língua solta... Durante a Aparição, enquanto a Bela Senhora se dirige a Melânia, faz girar o chapéu no alto do cajado, ou com outra ponta, brinca com as pedrinhas em torno dos pés da Bela Senhora. - "Nenhuma a tocou!", responderá ele, espontaneamente, a seus inquiridores. É cordial, desde que se sinta amado. Malicioso quando se quer implicar com ele. Sua adolescência foi difícil. Nos três anos seguintes à Aparição, perde seu meio-irmão João Francisco, a madrasta Maria Court, e seu pai o carpinteiro Geraud. É posto sob a tutela do irmão de sua mãe, o Tio Templier, homem rude e interesseiro. Na escola, sua evolução nos estudos é modesta.
A Irmã Santa Tecla que o acompanha de perto, chama-o de "o eterno movimento". Acrescentem-se a isso, as pressões exercidas pelos peregrinos e curiosos. Nessas circunstâncias, alguns iluminados legitimistas, partidários de um pretenso filho de Luís XVI, querem manipulá-lo para fins políticos. Maximino procura ludibriá-los. Contra os conselhos do Pároco de Corps e desrespeitando a interdição do Bispo de Grenoble, eles conduzem o adolescente a Ars. Maximino não gosta da companhia deles, mas aproveita a ocasião para conhecer este local. São recebidos pelo imprevisível Pe. Raimundo que, logo de início, trata o fato de La Salette como trapaça, e os videntes como mentirosos. Durante a manhã de 25 de setembro de 1850, o Cura d'Ars encontra-se por duas vezes com Maximino, uma na sacristia, e outra no confessionário, mas sem confissão. Que poderá ter-lhe contato esse adolescente exasperado? O resultado é que, durante anos, o santo Cura d'Ars duvidou e sofreu. Depois do mandamento de 1851 ele remeterá seus interlocutores ao julgamento emitido pelo Bispo responsável. Demorou alguns anos ele mesmo aceitar o fato e reencontrar a paz. Quanto a Maximino, mesmo afirmando que jamais se desmentiu, terá muitas dificuldades em justificar ser comportamento. Basta enumerar os locais por onde passou para se avaliar a que ponto o jovem Maximino viveu de cá para lá: do seminário menor de Grenoble (Le Rondeau) à Grance Chartreuse, do tratamento médico em Seyssin a Roma, de Dax a Aire-sur-Adour a Vésinet, depois do colégio de Tonnerre a Petit Jouy em Josas perto de Versailles e a Paris. Seminarista, empregado num asilo, estudante de medicina falhando ao bacharelado, trabalha numa farmácia, engaja-se como guarda-pontíficio, rescindindo o contrato após seis meses e voltando a Paris. O jornal "La Vie Parisiense" atacou La Salette e os dois videntes.
Maximino apresenta queixa e obteve uma retificação. Em 1866 publica um opúsculo: -"Minha profissão de fé a respeito da Aparição de Nossa Senhora de La Salette". Nesse período, o Sr. e a Sra. Jourdain, um casal devotado ao serviço de Maximino, assegura-lhe certa estabilidade e paga suas dívidas a ponto de se arruinar. Maximino aceita então associar-se a um comerciante de licores que faz uso de usa notoriedade para aumentar a venda de seus produtos. O imprevidente Maximino não encontra ali satisfação. Em 1870 foi mobilizado a servir no Forte Barrau, em Grenoble. Por fim, volta a Corps onde o casal Jourdain vem a seu encontro. Os três vivem pobremente, ajudados pelos padres do Santuário, com a aprovação do Bispado. Em novembro de 1874, Maximino sobe ao local de peregrinação de La Salette. Diante de um auditório particularmente atento e comovido, apresenta a narrativa da Aparição como o fizera desde o primeiro dia. Será a última vez. A 2 de fevereiro de 1875, vai igualmente pela última vez, à Igreja Paroquial. Na tarde de 1o. de março, Maximino se confessa, recebe a Eucaristia bebendo um pouco de água de La Salette para engolir a hóstia. Cinco minutos mais tarde entrega sua alma a Deus. Não completara quarenta anos ainda. Seus restos mortais repousam no cemitério de Corps, mas seu coração se encontra na Basílica de La Salette, perto do teclado do órgão. Era sua última vontade, para assim marcar seu apego à Aparição: - "Creio firmemente, mesmo a preço de meu sangue, na célebre aparição da Santíssima Virgem sobre a Montanha de La Salette, a 19 de setembro de 1846. Aparição que defendi por palavras, por escritos e por sofrimentos... Com este sentimento dou aqui meu coração a Nossa Senhora de La Salette".
A 19 de setembro de 1855, Dom Ginoulhiac, novo Bispo de Grenoble, assim resumia a situação:- "A missão dos pastores chegou ao fim, a da Igreja começa". Inúmeros são hoje os homens e mulheres de todas as raças e países, que encontraram na mensagem da Salette o caminho da conversão, o aprofundamento da própria fé, o dinamismo para a vida cotidiana, as razões do próprio engajamento com e no Cristo a serviço dos outros.
Melânia Calvat
Melânia nasceu em Corps, aos 7 de novembro de 1831, no seio de uma família numerosa. O pai, Pedro Calvat, conhecido como serrador, na verdade aceita qualquer tipo de trabalho. A mão, Julia Barnaud, lhe dará dez filhos. Melânia é a quarta. A família é tão pobre que às vezes, as crianças eram mandadas mendigar. Criança ainda, Melânia é "empregada" para tomar conta de vacas junto a camponeses da região. Desde a primavera de 1846 até o fim do outono, ei-la na casa de João Batista Pra, em Ablandins, um dos pequenos povoados da aldeia de La Salette. O vizinho de Pra se chama Pedro Selme. É ele que contratou por uma semana somente, o irrequieto Maximino para substituir um pastor adoentado. Diante desse extrovertido, Melânia, tímida e taciturna, se mantém reservada. No entanto, as duas crianças têm algo em comum..., sem assim se pode falar! Nascidas em Corps, onde residem as respectivas famílias, não se conhecem porem, dadas as prolongadas ausências da pastora. Ambos falam o dialeto local, e só conhecem algumas palavras do francês. Nem escola, nem catecismo. Não sabem ler nem escrever. O pai de Melânia vive à procura de serviço. A mãe anda sobrecarregada de trabalho por causa da família numerosa. Não há lugar para o afeto, e se há, é muito pouco. No dia da Aparição, o que caracteriza Melânia e Maximino é a pobreza: pobres de bens, pobres de saber, pobres de afeição. O fato é que são inteiramente dependentes. São como "cera virgem" que o evento marcará definitivamente com seus sinais, respeitando porém suas personalidades. Melânia, na verdade, é muito diferente de seu companheiro Maximino. Vive na casa de estranhos e só convive com a própria família durante os difíceis meses de inverno, quando a fome e o frio sobrevêm. Não é de estranhar pois que seja tímida e introvertida. - "Suas respostas eram simplesmente Sim ou Não", afirmava seu patrão, João Batista Pra. Depois do fato, ela responderá com clareza e simplicidade às perguntas relativas ao evento de La Salette. Permanece durante quatro anos junto às Irmãs da Providência. Tem pouca memória e ainda menos aptidões que Maximino, para os estudos.
A partir de novembro de 1847, sua diretora já temia que Melânia "não tirava proveito da posição que o evento lhe havia dado". Tornando-se postulante e, a seguir, noviça nessa mesma Congregação, objeto de atenção e condescendência da parte de numerosos visitantes, ela se abstêm às próprias opiniões. Por isso, o novo Bispo de Grenoble, reconhecendo, embora, sua piedade e devotamento, recusa-se a admiti-la aos votos "para formá-la... na prática da humildade e da simplicidade cristãs". Infelizmente, Melânia dá ouvidos a pessoas "inquietas e doentias", imbuídas de profecias populares, de teorias pseudo-apocalípticas e pseudo-místicas. Isso a marcará pelo resto da vida. Para dar crédito a tais afirmações, ele as relê à luz do segredo que recebeu da Bela Senhora. O mais simples exame do que afirma e escreve, mostra já as diferenças irredutíveis aos sinais e palavras de Maria em La Salette. Melânia, seus problemas e fantasias, tornaram-se o centro de seu discurso. Através de suas profecias, acerta as contas com aqueles que opõem alguma resistência a seus projetos. Assim manisfesta sua recusa à sociedade ou meio ambiente em que encontra problemas. Recria um passado imaginário onde são exorcizadas as frustrações de que foi vítima na infância. Já em 1854, Dom Ginoulhiac escrevia:- "As predições!atribuídas a Melânia... não têm fundamento, não têm importância em relação ao Fato de La Salette... são posteriores a esse mesmo Fato e nenhuma ligação têm com ele". E observa: - "Deixou-se a maior liberdade às duas crianças para se desmentirem, e elas não mudaram seu falar a respeito da verdade do fato de La Salette". Nessa ótica, Dom Ginoulhiac proclamará a 19 de setembro de 1855, sobre a Santa Montanha: "A missão dos pastores findou, e da Igreja começa".
Infelizmente, Melânia prosseguirá em suas divagações proféticas, orquestradas mais tarde pelo talento fulgurante de Leon Bloy ao criar uma corrente "melanista" que pretende se ligar a La Salette, mas que não tem outra base senão as incontroláveis afirmações de Melânia. Está muito longe dos fundamentos históricos da Aparição. Quanto ao conteúdo, apesar do verniz religioso, nada tem praticamente a ver com as verdades da fé da Igreja, relembradas por Maria em La Salette. deixa-se o campo da fé para ir-se ao campo instável, contestável e estéril das crendices. Esse tipo de literatura distancia da fá em vez de favorecê-la. Em 1854, um sacerdote inglês leva Melânia à Inglaterra. No ano seguinte, ela entre no Carmelo de Darlington, onde faz profissão temporária em 1856, deixando-o porém em 1860. Faz outra tentativa junto às Irmãs da Compaixão, de Marselha. Depois de uma estadia na casa delas em Cefalônia, na Grécia, e de uma passagem pelo Carmelo de Marselha, retorna às Irmãs da Compaixão por pouco tempos. Depois de alguns dias em Corps e em La Salette, estabelece-se na Itália, em Castellamare di Stabia, perto de Nápoles. Alik permanece durante dezessete anos, escrevendo seus "segredos" e a regra para uma eventual fundação. O Vaticano solicita ao Bispo da Diocese que a proíba de publicar este tipo de escritos, mas ela procura obstinadamente outros apoios e o imprimatur, até mesmo junto ao chefe do Sacro Palácio, Dom Lepidi. Isso não significa uma aprovação, nem mesmo velada.
Além disso, a autoridade a que Melânia se refere não é competente. Depois de uma estadia no sul, em Cannes, reencontramos Melânia em Chalon-sur-Saône onde, sempre em busca de uma fundação, sustentada pelo Cônego de Brandt d'Amiens, suscita uma querela com Dom Perraud, Bispo de Autum. A Santa Sé entra na questão e dá razão ao Bispo. Em 1892, retorna à Itália, perto de Lecce, depois em Messina, na Sicília, mediante convite do Cônego Anibal di Francia. Depois de alguns meses no Piemonte, estabelece-se na casa do Pe. Combe, Pároco de Diou, no Allier, um sacerdote apaixonado por profecias político-religiosos. Ali concluí uma autobiografia, no mínimo romanceada, onde reinventa para si mesma, uma infância extraordinária, mesclada de considerações pseudo-místicas, reflexo de suas próprias fantasias e das quimeras de seus correspondentes.
As mensagens que estão Melânia emite e que ligar a La Salette, nada em verdade, têm a ver com seu testemunho primitivo a respeito da Aparição. Aliás, quando se toca no fato de 19 de setembro de 1846, ela reencontra a simplicidade e a clareza de sua primeira narrativa, em plena concordância com a de Maximino. E isso, de maneira constante. Assim foi quando de sua passagem sobre a Santa Montanha, a 18 e 19 de setembro de 1902. Retorna ao sul da Itália, em Altamura, perto de Bari. Ali morre aos 14 de dezembro de 1904. Repousa sob uma lápide de mármore na qual um baixo relevo mostra a Virgem acolhendo a pastora de La Salette, no céu. Uma coisa é certa: ao final de todas as suas andanças, há um ponto sobre o qual Melânia jamais mudou: o testemunho que, com Maximino, ela deu na tarde de 19 de setembro de 1846, na cozinha de João Batista Pra, em Ablandins, e durante toda a investigação conduzida por Dom Felisberto de Brillard, retomada e confirmada pela de Dom Ginoulhiac. Numa vida difícil, Melânia permaneceu pobre e piedosa, fiel sempre a seu primeiro testemunho.

8.12.08

Nossa Senhora da Conceição


Nossa Senhora da Conceição

Muitos séculos antes de a Igreja Católica proclamar o dogma da Imaculada Conceição de Maria, o povo reconhecia a pureza da Mãe de Deus, concebida sem a mancha do pecado original, e celebrava sua festa a 8 de dezembro.
Segundo a tradição Nossa Senhora apareceu a várias pessoas confirmando a sua Conceição Imaculada e, após a proclamação do dogma pelo santo Padre Pio IX, Maria Santíssima deu-se a conhecer em Lourdes a Bernadette Soubirous dizendo: - “Eu sou a Imaculada Conceição”.Em Portugal, Nossa Senhora da Conceição possuía grande número de devotos quando seu culto foi oficializado por D. João IV, primeiro rei da dinastia de Bragança, que fora aclamado a 1º de dezembro de 1640, data em que se iniciava a oitava da festa da Imaculada Conceição. Seis anos depois, com a aprovação das Cortes de Lisboa, ele dedicou à Virgem Imaculada o reino português. Em todo o território lusitano, assim como em suas colônias, a festa da Imaculada Conceição de Maria tornou-se oficial e obrigatória.Características: Nossa Senhora, sobre o globo terrestre, esmaga com os pés uma cobra, símbolo do pecado original. Ela está de mãos juntas em atitude de oração e tem os cabelos longos caídos sobre os ombros. Usa uma túnica branca e um manto azul, e muitas vezes se apresenta com uma coroa real. Sob seus pés aparece geralmente um crescente de lua sendo que às vezes a Senhora pisa sobre ele e a cobra envolve a terra. Em algumas imagens, sob os pés da Virgem surgem cabeças de anjos.A lua que aparece quase sempre sob os pés da Senhora da Conceição simboliza a substância passiva, que guarda em seu seio os raios do Sol. Por esse motivo é também o símbolo da Maria, que guardou em seu seio Jesus, o Deus Encarnado, a Luz Divina.(retirado de:

Em 25/03/1646,
João IV de Portugal fez uma cerimónia solene, em Vila Viçosa, para agradecer a Nossa Senhora a Restauração da Independência de Portugal em relação a Espanha. Dirigiu-se à igreja de Nossa Senhora da Conceição, que declarou padroeira e rainha de Portugal. A partir dessa data, mais nenhum rei português usou coroa na cabeça, por se considerar que só a virgem tinha esse direito. Nos quadros onde aparecem reis ou rainhas, a coroa está pousada ao lado, sobre uma mesa, num tamborete ou almofada de cetim.









CONSAGRAÇÃO DE PORTUGAL A NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO




Nas cortes celebradas em Lisboa no ano de 1646 declarou el-rei D. João IV que tomava a Virgem Nossa Senhora da Conceição por padroeira do Reino de Portugal, prometendo-lhe em seu nome, e dos seus sucessores, o tributo anual de 50 cruzados de ouro. Ordenou o mesmo soberano que os estudantes na Universidade de Coimbra, antes de tomarem algum grau, jurassem defender a Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Não foi D. João IV o primeiro monarca português que colocou o reino sob a protecção. da Virgem, apenas tornou permanente uma devoção, a que os nossos reis se acolheram algumas vezes em momentos críticos para a pátria. D. João I punha nas portas da capital a inscrição louvando a Virgem, e erigia o convento da Batalha a Nossa Senhora, como o seu esforçado companheiro D. Nuno Alvares Pereira levantava a Santa Maria o convento do Carmo. Foi por provisão de 25 de Março do referido ano de 1646 que se mandou tomar por padroeira do reino Nossa Senhora da Conceição. Comemorando este facto cunharam-se umas medalhas de ouro de 22 quilates, com o peso de 12 oitavas, e outras semelhantes mas de prata, com o peso de uma onça, as quais foram depois admitidas por lei como moedas correntes, as de ouro por 12$000 réis e as de prata por 600 réis. Segundo diz Lopes Fernandes, na sua Memoria das medalhas, etc., consta do registo da Casa da Moeda de Lisboa, liv. 1, pag. 256, v. que António Routier foi mandado vir de França, trazendo um engenho para lavrar as ditas medalhas, as quais se tornaram excessivamente raras, e as que aquele autor numismata viu cunhadas foram as reproduzidas na mesma Casa da Moeda no tempo de D. Pedro II. Acham-se também estampadas na Historia Genealógica, tomo IV, tábua EE. A descrição é a seguinte: JOANNES IIII, D. G. PORTUGALIAE ET ALGARBIAE REX – Cruz da ordem de Cristo, e no centro as armas portuguesas. Reverso: TUTELARIS REGNI – Imagem de Nossa Senhora da Conceição sobre o globo e a meia lua, com a data de 1648, e; nos lados o sol, o espelho, o horto, a casa de ouro, a fonte selada e arca do santuário. O dogma da Imaculada Conceição foi definido pelo papa Pio IX em 8 de Dezembro de 1854, pela bula Ineffabilis. A instituição da ordem militar de Nossa Senhora da Conceição por D. João VI sintetiza o culto que em Portugal sempre teve essa crença antes de ser dogma. Em 8 de Dezembro de 1904 lançou-se em Lisboa solenemente a primeira pedra para um monumento comemorativo do cinquentenário da definição do dogma. Ao acto, a que assistiram as pessoas reais, patriarca e autoridades, estiveram também representadas muitas irmandades de Nossa Senhora da Conceição, de Lisboa e do país, sendo a mais antiga a da actual freguesia dos Anjos, que foi instituída em 1589.






SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO EM PORTUGAL




O Santuário de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa é também conhecido por Solar da Padroeira, por nele se encontrar a imagem de Nossa Senhora da Conceição (manifestação), padroeira de Portugal. A igreja, que é simultaneamente Matriz de Vila Viçosa, fica situada dentro dos muros medievais do castelo da vila, não se podendo porém precisar a data exacta da sua fundação, sendo que a existência da matriz é já assinalada na época medieval. O edifício actual resulta da reforma levada a cabo em 1569, reinando D.Sebastião, sendo um amplo templo de três naves, onde o mármore regional predomina como material utilizado na construção. Segundo a tradição, a imagem da padroeira terá sido oferecida pelo Condestável do Reino, D.Nuno Álvares Pereira, que a terá adquirido em Inglaterra. A mesma imagem teve a honra de, por provisão régia de D.João IV, referendada em cortes gerais, ter sido proclamada Padroeira de Portugal, em 25 de Março de 1646. A partir de então não mais os monarcas portugueses da Dinastia de Bragança voltaram a colocar a coroa real na cabeça. A notável imagem, em pedra de ançã, encontra-se no altar-mor da igreja, estando tradicionalmente coberta por ricas vestimentas (muitas delas oferecidas pelas Rainhas e demais damas da Casa Real) . Ainda em 6 de Fevereiro de 1818 o Rei D.João VI concedeu nova benesse ao Santuário, erigindo-o cabeça da nova Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, agradecendo à Padroeira a resistência nacional às invasões francesas. Neste Santuário nacional estão sediadas as antigas Confrarias de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e dos Escravos de Nossa Senhora da Conceição. O Papa João Paulo II visitou este Santuário durante a sua primeira visita a Portugal, em 14 de Maio de 1982. A grande peregrinação anual ao Santuário de Vila Viçosa celebra-se a 8 de Dezembro, solenidade da Imaculada Conceição, Padroeira Principal de Portugal. Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa foi também declarada padroeira da Arquidiocese de Évora. É actualmente reitor deste Santuário o Padre Mário Tavares de Oliveira.

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